sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Compromisso da candidatura (1)

A Ordem dos Advogados está na encruzilhada mais decisiva da sua história: ou se transforma definitivamente numa instituição ao serviço da advocacia, do estado de direito e da cidadania ou volta a ser um grémio ao serviço da nomenclatura dirigente e das teias de interesses que cresceram dentro dela.
Durante décadas, a OA viveu na mais absoluta paz interna (melhor dizendo: viveu no silêncio mais unanimista), enquanto levianamente os seus dirigentes permitiam e/ou promoviam (por acção e por omissão) a massificação da profissão e, externamente, os inimigos da Advocacia fomentavam um processo de desjudicialização da justiça cuja principal característica era afastar os Advogados dos tribunais ou então reduzir a sua intervenção a um papel meramente residual, totalmente subordinado aos poderes e interesses egoístas dos magistrados.
Tudo isso foi-se desenvolvendo inexoravelmente, perante o alheamento das sucessivas castas de dirigentes da OA que, alheias à realidade, continuavam, qual orquestra do Titanic, a cantar hossanas a si próprias, enquanto a Advocacia se afundava, perdendo a dignidade, o prestígio e o respeito que sempre tivera ao longo da sua história. A Ordem, envolta na pompa e circunstância das suas cerimónias passadistas, continuava a proclamar uma grandeza que já só existia nos discursos de circunstância e na fanfarronice decadente dos seus dirigentes.
Contra isso me insurgi e tentei romper com essa situação através do único caminho possível: a denúncia pública daquelas degenerescências, ao mesmo tempo que tentava alertar os Advogados e os cidadãos (em nome de quem a justiça é administrada nos tribunais) para a necessidade de inverter esse estado de coisas.

(A. Marinho e Pinto - Programa de Acção.)