sexta-feira, 12 de novembro de 2010

António Barreto Archer apoia Marinho e Pinto

Nesta hora de eleições na Ordem dos Advogados, dirijo-me a todos os colegas que amam verdadeiramente esta profissão, que eu considero uma das mais nobres e apaixonantes que um homem ou uma mulher de bem podem exercer. Digo-o sem menosprezo pelas outras profissões, mas com a autoridade de quem já exerceu outros misteres de indiscutível relevância (engenheiro e professor universitário). A origem da advocacia está ligada ao próprio fundamento da civilização, enquanto manifestação da sociabilidade humana, que encontra o seu zénite no socorro do aflito. Na sociedade tecnológica em que vivemos, a advocacia é cada vez mais complexa e multifacetada, mas podemos encontrar, em cada uma das suas diferentes formas de exercício, uma relevância ética capaz de delimitar uma função social que é a nota distintiva essencial em relação à maior parte das outras profissões. O juiz julga, em nome do povo, mas esgota-se nessa função, para a qual se serve muitas vezes do denodado trabalho do advogado, que lhe joeira os factos e lhe prepara os argumentos. O advogado aconselha, assiste, acompanha, apoia, decide também, no silêncio do seu gabinete, se aceita ou não o patrocínio daquela causa, da qual pode depender a honra, a dignidade, o património ou mesmo a vida de alguém. O advogado complementa o juiz e irmana-se com ele na distribuição daquele bálsamo para todas as feridas a que se chama Justiça. Apenas o médico, quando tem nas mãos a vida de um ser humano, exercerá uma profissão de nobreza equivalente. Mas a acção e a necessidade do médico terminam com a morte física da pessoa, enquanto a acção e a necessidade do advogado se podem prolongar para além desta, na garantia de que as suas últimas vontades serão cumpridas ou de que a sua memória será honrada ou perpetuada.
É, pois, tempo de afirmarmos o nosso orgulho em sermos advogados e de enxotarmos definitivamente aquele fantasma caricatural que paira ainda sobre alguma opinião pública (ou publicada) do advogado aldrabão e ganancioso. Num clima de grave crise do sistema de justiça em Portugal, que persiste em não se organizar de forma eficiente, de modo a servir os cidadãos que dele são utentes e defender o estado de direito, e perante uma ofensiva sem precedentes contra a advocacia livre e independente, cabe ao Bastonário da Ordem dos Advogados ser o porta-estandarte dos valores, e do valor, da verdadeira advocacia. Não tenho dúvidas de que o Dr. António Marinho e Pinto é o homem certo para esta tarefa. No seu primeiro mandato como Bastonário da Ordem dos Advogados teve a coragem de travar um combate verdadeiramente desigual contra diversas (e surpreendentes) forças de bloqueio, erguendo a sua voz em defesa dos advogados no seu papel de imprescindíveis provedores dos direitos dos cidadãos e em prol de uma justiça feita com humanidade, colocada ao serviço da sociedade civil e digna de um Estado de Direito Democrático.

Para além do exercício da advocacia em Coimbra, onde se notabilizou pela sua honestidade, pela coragem e acutilância jurídica das suas intervenções forenses e por uma postura de intransigente defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos perante o poder judicial, o Dr. Marinho Pinto é possuidor de uma vasta cultura, tem diversos livros e artigos publicados sobre justiça, advocacia e cidadania e proferiu dezenas de conferências e intervenções públicas, onde tem colocado os seus notáveis dotes oratórios ao serviço dos princípios e valores fundamentais do estado de direito.

Os outros dois candidatos a bastonário são, sem dúvida, colegas estimáveis, mas caso fossem eleitos, as suas intervenções em prol da advocacia nunca teriam o eco das que são feitas pelo Dr. Marinho Pinto, que se tornou, nos últimos anos, uma figura de primeiro plano na vida nacional. Podemos criticar a oportunidade de algumas das suas afirmações ou os excessos de agressividade no seu discurso, mas a verdade é que o seu estilo frontal e contundente se tornou conhecido e apreciado pela generalidade dos portugueses. Dizia o estadista inglês Winston Churchill que, de vez em quando, os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles levanta-se rapidamente e continua o seu caminho como se nada tivesse acontecido. O Dr. Marinho Pinto não foge da verdade, mesmo quando ela é incómoda ou, como agora se diz, politicamente incorrecta. As posições que toma sobre as matérias mais candentes da actualidade política e judiciária assentam sobre princípios, o que nem sempre é bem compreendido, numa sociedade dominada por interesses. A sua independência perante os poderes instalados e a coragem que o caracteriza permitem-lhe denunciar com clareza as situações de injustiça e abuso de poder na nossa sociedade, sempre em nome de um profundo respeito pela liberdade e dignidade da pessoa humana, exigências primeiras de um Estado de Direito Democrático. É que, se há ocasiões em que o silêncio é ouro, há outras em que é pura cobardia.

Os advogados portugueses não devem perder a oportunidade de reeleger como seu bastonário uma figura desta dimensão, capaz de prestigiar a advocacia e lutar pelas suas legítimas causas. Não se esqueçam disto na hora do voto!

António Barreto Archer